quarta-feira, 11 de junho de 2008

Jesus e a Religiosidade

Jesus e a Religiosidade
Jorge Issao Noda
“É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite” (Lucas 9:22)

Estamos inclinados a pensar que a religião em si é algo bom. Afinal, que mal há em pessoas e organizações que procuram servir a Deus e ao próximo? Ainda que haja tanta diversidade de doutrinas e cerimônias, religiosos parecem estar comprometidos com causas superiores e espirituais. Infelizmente, nem sempre isso corresponde ao que a história revela. A religião tem sido usada para justificar todo tipo de ódio, violência, corrupção e discriminação. A instituição religiosa de Israel muitas vezes perseguiu e matou os verdadeiros profetas de Deus. Quem matou Jesus não foi a opressão política ou interesses econômicos em primeiro lugar, mas foi a religião instituída na pessoa dos líderes religiosos. A história insólita de suborno, traição e conspiração para a morte de Jesus não foi concebida nas ruas da criminalidade nem nos palácios do governo, mas no templo e nas sinagogas. Em nome da religião foi cometido o maior ato de injustiça da história. Na Idade Média, foi a igreja instituída que concebeu a terrível, mas chamada santa inquisição. Em nome de Deus, qualquer um que se opunha ao sistema era considerado herético, torturado e muitas vezes executado com requintes de crueldade. Atualmente, em nome de Alá, o terrorismo mata milhares de pessoas inocentes. Enfim, a religião pode ser o maior inimigo do próprio Deus.
Por isso, não é de estranhar que os maiores conflitos de Jesus ocorreram com a elite religiosa de sua época. O Senhor Jesus profetizou: “mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus” (Jo 16:2). Ainda que considerados pelo povo com santos e comprometidos com os mais elevados valores espirituais, muitos teólogos e pastores da época não passavam de “sepulcros caiados”, pois sua suposta religião externa só servia para encobrir uma vida de ganância, opressão, imoralidade e ódio. Sua espiritualidade consistia no culto ao ego e sua devoção era à deusa da riqueza. Seu zelo extremado pelas minúcias cerimoniais e guarda de dias sagrados os impedia de compreender o que era misericórdia ou justiça. Jesus conseguia ver nos líderes religiosos mais do que a ingenuidade do povo podia perceber. O confronto de Cristo com eles era a indignação de Deus contra aqueles que ousam falar em seu nome para fazer de produtos religiosos objetos de consumo. Jesus não poupou palavras duras e diretas contra eles, pois eram lobos vestidos de ovelhas. O Filho de Deus não acreditava que todos os caminhos levavam a Deus, nem promovia um ecumenismo que pisoteava as verdades absolutas do evangelho.
Nosso tempo não é diferente dos tempos de Jesus. Mais do que nunca estamos testemunhando o absurdo em nome de Deus. Grandes instituições religiosas promovem o mais descarado comércio da fé com a anuência do povo. A ingenuidade de muitos enche os cofres de charlatões. Doutrinas que justificam o mais crasso egoísmo e materialismo são celebradas como verdades espirituais. Celebridades professam a fé, mas se recusam a mudar de vida. A mídia veicula propaganda religiosa que viola a inteligência humana e afasta as pessoas de um verdadeiro compromisso com Deus.
Em nome do “politicamente correto” e do amor cristão somos instados a não criticar e não antagonizar essas barbáries religiosas, pois, em nome de Jesus e do seu evangelho, temos o dever de reafirmar as verdades absolutas do evangelho. Com sensibilidade e compaixão, somos chamados a alertar vidas preciosas sobre o perigo da voracidade dos lobos. Uma tolerância que nos permite ver multidões seduzidas pelo erro sem fazer nada não é amor, mas omissão do tipo mais cruel. A verdade liberta e a mentira escraviza. O Senhor Jesus nos chama a exercer discernimento espiritual e denunciar o engano religioso. O que está em jogo não é uma questão de mera opinião, mas a glória de Deus e o bem estar eterno de pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus. Certamente, tal postura poderá atrair o ódio do estabelecimento religioso, mas o caminho do evangelho é o caminho da cruz.
Você está pronto a assumir o seu papel como discípulo de Cristo? Então, pare de consumir lixo religioso, tenha discernimento espiritual, cultive compaixão por ovelhas que estão nas garras de líderes inescrupulosos, assuma o compromisso de proclamar o evangelho de Cristo e de fazer discípulos de todas as nações. Assim, você poderá olhar para trás e dizer: “Combati o bom combate... guardei a fé”.

Texto do Rev. Jorge Issao Noda, extraído do boletim dominical da Igreja Presbiteriana de Campina Grande

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

CONTROVÉRSIA

CONTROVÉRSIA Resultado de Defendermos a Verdade

John Gresham Machen


Os homens afirmam que, em lugar de entrarmos em controvérsia na igreja, devemos orar a Deus suplicando um avivamento. Em vez de criar polêmicas, precisamos evangelizar. Bem, que tipo de avivamento você acha que teremos? Como podemos qualificar o evangelismo que se mostra indiferente a respeito do tipo de evangelho que está sendo pregado? Com certeza, isso não corresponde ao avivamento no sentido neotestamentário e ao evangelho que Paulo desejava proclamar, quando afirmou: “Ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co 9:16). Não, meus amigos, não pode haver verdadeiro evangelismo, quando tornamos a nossa causa comum à dos inimigos da cruz de Cristo. Almas dificilmente serão salvas, se os evangelistas não disserem, juntamente com Paulo: “Ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8). Todo verdadeiro avivamento nasce da controvérsia e conduz a mais controvérsia ainda. Isso tem sido verdadeiro desde que o Senhor Jesus declarou que não viera trazer paz sobre a terra e sim espada. Sabe o que acontecerá quando Deus enviar uma nova reforma à igreja? Não podemos dizer quando esse dia abençoado virá. Mas, quando esse dia abençoado chegar, creio que podemos mostrar pelo menos um resultado que ele trará. Naquele dia, não ouviremos coisa alguma acerca dos males da controvérsia na igreja. Isto desaparecerá como que através de um poderoso dilúvio. O homem que “arde” com a mensagem jamais fala de maneira deprimente e fraca; ele proclama a verdade com alegria e sem temor, na presença de todas as falsidades que se levantam contra o evangelho de Cristo.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A LIBERDADE DO OLEIRO

A LIBERDADE DO OLEIRO
Charles H. Spurgeon

Não existe atributo de Deus que ofereça mais conforto aos seus filhos do que a doutrina da soberania divina. Nas circunstâncias mais adversas, nos mais graves problemas, eles crêem que a soberania divina ordenou as suas aflições, acreditam que ela os governa e os santificará completamente. Não existe outra coisa pela qual os crentes devam contender com mais seriedade do que pelo assunto referente ao domínio de seu Senhor sobre toda a criação, — o reino de Deus sobre todas as obras de suas mãos — e pelo assunto referente ao trono de Deus e ao seu direito de assentar-se sobre esse trono.
Por outro lado, não há outra doutrina mais odiada pelos incrédulos, nem uma verdade com a qual eles mais brincam do que a grande e estupenda, porém correta, doutrina da soberania do infinito Jeová. Os homens permitem que Deus esteja em qualquer lugar, exceto em seu trono; que Ele esteja em sua oficina, moldando o mundo e criando estrelas, ou em sua entidade filantrópica para distribuir suas esmolas e dispensar sua generosidade. Os homens admitirão que Deus sustenta a Terra e as estrelas no céu e governa as ondas do oceano que se movem incessantemente. Mas, quando Ele ascende ao seu trono, suas criaturas rangem os dentes. E, quando proclamamos um Deus entronizado e seu direito de realizar o que deseja com suas próprias coisas, seu direito de dispor de suas criaturas como Ele acha melhor, sem consultá-las a respeito do assunto, então, nesse momento somos execrados e vaiados, e os homens fecham seus ouvidos para nós, pois o Deus que está no trono não é o Deus que eles amam. Eles não O amam quando Ele se assenta no trono, com o cetro em suas mãos e a coroa sobre a cabeça. No entanto, apreciamos falar sobre o Deus que está assentado no trono. Este é o Deus em quem nós cremos.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Convocação

CONVOCAÇÃO

Manoel Canuto

O telefone tocou. O presbítero atende. Uma voz amiga lhe fala. Era uma consulta por telefone. Um irmão compartilha de sua luta interior sobre se deveria aceitar concorrer a determinado ofício eclesiástico. O presbítero fala por mais ou menos dez minutos e de forma concisa expõe aquilo que enche seu coração: Necessidade de reforma hoje.
Calvino escreveu um livro com este título. De uma forma muito estreita e rasa podemos entender hoje a ansiedade vivida por João Calvino em sua época. No último Simpósio Reformado Os Puritanos um de seus preletores, Dr. Richard Bacon, disse: “Queremos ver uma reforma acontecer na Igreja. Não importa quão reformada ela esteja agora, o que queremos é que seja mais reformada. Há sempre lugar para melhorar”. Na sua resposta ao irmão no telefone o presbítero fala do privilégio de se ser um líder na igreja de Cristo, mas também da alta responsabilidade que envolve esta posição. “Ser hoje apenas mais um líder de igreja não fará diferença”, falou o presbítero. O importante no capítulo 3 da primeira epístola de Paulo a Timóteo, onde estão inseridas as qualificações do ofício eclesiástico, vemos as palavras iniciais: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja”, ou “deseja uma obra nobre”. Aqui não existe um elogio àquele que aspira um ofício. O que é “excelente” ou “nobre”, no texto, não se refere ao esforço daquele que aspira ser um oficial da igreja, mas sim ao próprio ofício. No contexto em que foi escrita esta carta, ser um líder, um oficial da igreja, significava sacrifício. Os falsos mestres já minavam a verdade e um presbítero teria de ser alguém valoroso, desprendido, corajoso, que se dispunha a sacrificar seus interesses, sua segurança pessoal, seu descanso físico para abraçar a tarefa “nobre” de apascentar a igreja de Cristo, a qual Ele comprou com seu próprio sangue (At 20:28). Um presbítero deve ser um homem piedoso, mas intrépido na supervisão das ovelhas, na defesa da fé e no exemplo de vida cristã. Deve ter em mente a pureza da Igreja e o zelo pela casa de Deus, o corpo de Cristo.
Quando vemos este “nobre” ofício instituído por Cristo para Sua igreja, nos vem logo a mente o slogan reformado: “Reformado, sempre reformando”. As palavras do ancião ao telefone tiveram esta direção. Se hoje a igreja possa por crise e não vemos se levantar reformadores, duas coisas são evidentes:

(1) Estamos como os líderes da época de Malaquias a quem Deus pergunta: “Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? _ diz o SENHOR dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome”. Eles respondem: “Em que desprezamos nós o teu nome?” (Ml 1:6). Estavam sofrendo de presbitismo ou presbiopia. Isto é, estão sofrendo de uma deficiência da visão decorrente da perda da elasticidade do cristalino que impede a pessoa de ver com nitidez aquilo que está próximo. É também chamada de “vista cansada”. A origem da palavra vem do grego presbyteroi, ancião, presbítero. É uma deficiência dos idosos. Aqueles líderes do passado e muitos de hoje estão com “vista cansada”, não enxergam o que está perto, não vêem sua omissão e erros cometidos; não vêem que estão permitindo que lobos vorazes ataquem o rebanho de Deus, não enxergam as fraquezas da igreja de hoje, o secularismo que sorrateiramente destrói os fundamentos da Igreja.

(2) A própria ausência de reformadores em nossos dias é uma evidência do declínio espiritual da igreja.

Muitos que vêem o declínio na igreja dizem que não vão deixar sua igreja. Isso é correto e incentivamos esta atitude, pois não devemos ter espírito cismático. Mas o problema é que a acomodação os domina. Não saem da igreja, mas não lutam para que a doença que a contamina seja curada. Outros procuram lutar contra uma igreja que está em crise, mas com armas carnais. Estas pessoas parecem zelosas e chamam sua igreja de mãe: “Não vamos abandonar nossa mãe”. Mas uma igreja em declínio espiritual não deve ser tratada como uma mãe e sim como um médico ruim que dá veneno aos seus pacientes na esperança de que eles fiquem curados.
Hoje um presbítero eleito deve ser, como bom Reformado, um reformador por natureza. Se isso não acontece, ele sofre de presbitismo. Não vê a crise eclesiástica, teológica, litúrgica, confessional, ministerial que vivemos. Antes, como reformador deve não só vê a necessidade de reforma e buscá-la com zelo, mas estar disposto a ser considerado absolutista, desconfiado, perturbador, divisionista, radical. Tem de ser paciente e não tolerante. O tolerante não tem perspectivas, suporta o status quo sem nada esperar como mudança, mas o paciente age esperando os resultados no tempo de Deus. Tudo sofre, tudo espera, tudo suporta, tudo crê.
“Concorra ao oficialato, mas seja um reformador”, finalizou o presbítero ao telefone.

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20:28).
--------------------------
Extraído da revista OS PURITANOS – Ano XIV : Nº IV : 2006